(continuação da penúltima postagem)
“Pirou de vez”, pensou o
vizinho, enquanto observava, aborrecido, o semicírculo de curiosos que se
formava diante dele assuntando a conversa.
— Você sabia que eu tenho
o corpo fechado?
“Mais essa...”
Ante o ar desenxabido com
que a revelação fora recebida, Ditão vangloriou-se:
— Foi Santo Antônio que
fechou! — Vendo a cara de descrença do vizinho e o ar parvo no rosto dos
demais, desembestou: — Então, não é ter o corpo fechado escapar do coice do
burro Barnabé? Ninguém que passa atrás dele escapa, e eu escapei da cacetada
que ele tentou me pespegar!
Cabeças balançaram, no
meio do povo à sua frente, em sinal de assentimento. Afinal, Ditão sempre
rematava a vestimenta com chapéu e botinas, merecia respeito.
Animou-se com a aprovação
popular:
— Lembram-se da colmeia no
oco da árvore, aqui mesmo na pracinha? Pois é, todo mundo lembra! Agora me
digam se é ou não é proteção do santo, as abelhas enxameando, picando muita
gente, fazendo escarcéu; e eu, eu mesmo, sem uma mordida, nem uma picadinha...
— desembuchou Ditão. Desafiou:
— Até bala o santo segura!
Duvida?
Exaltado, retirou a
espingarda do ombro de Simeão e colocou-a nas mãos dele:
—
Atire, Simeão! No rumo do coração. Vou provar que o
santo me protege.
—
Isso não vai dar certo, home!
—
Vai, sim! Então você vai acreditar, seu ateu! Atire!
O tiro soou no meio da
pracinha, assustando os pardais.
Simeão colocou a
espingarda novamente a tiracolo e caminhou para fora do triste arremedo de jardim,
acompanhando a debandada dos pardais.
— Eu falei que isso não ia
dar certo, home!
F I M
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