quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Beijo Perdido (parte 1ª/3)

Ao lado do brilhante automóvel vermelho, Geraldo e Bruna beijam-se. É domingo. Uma multidão atenta está ao redor deles. Os curiosos observam o beijo dos dois. Além deles, beijam-se outros três casais finalistas do concurso, na galeria principal do shopping center. Todos estão se beijando há muito tempo, um beijo prolongado, quase ininterrupto, iniciado às dezoito horas da sexta-feira, com intervalos de trinta minutos para descanso ao fim de cada oito horas.

— Ninguém quer participar do concurso comigo. Acho que sou muito feio — brincara Geraldo com Bruna, uma semana antes, enquanto eles se conheciam, admirando o carro vermelho que seria o prêmio do concurso de beijo instituído por uma grande montadora para promover o lançamento do seu novo modelo Kiss.

— Comigo acontece o contrário — respondera Bruna. — Tem um monte de caras querendo... mas nenhum aceitou assinar a ficha de inscrição. Acho que ficaram com medo da exibição. Deve ter sido isso que aconteceu com o Nino, também.

No banco duro da galeria, Bruna e Geraldo acabaram combinando a sua participação. Estavam desempregados. Se ganhassem — e estavam certos de que iam ganhar —, o dinheiro da venda do carro seria muito bem-vindo.
Um painel, colocado perto do automóvel, anuncia: “Kiss, tão sensual quanto o de verdade!”.
No relógio suspenso da galeria os algarismos marcam quatorze horas. Já se passaram quarenta e quatro horas desde o início do torneio. Bruna e Geraldo continuam se beijando. Em pé, como os outros casais concorrentes, agora em número de dois. Minutos antes, o casal número 49 fora desclassificado. Descolara as bocas, de repente, e o homem partira como um raio na direção do banheiro. Dor de barriga fora do intervalo regulamentar. Apesar de eliminado, obtivera o aplauso e os risos da platéia.

“Tomara que eu não precise ir ao banheiro antes do próximo intervalo”, calcula Geraldo, que sente calor apesar do ar refrigerado. Calor provocado também pela erótica proximidade do corpo da mulher. Várias vezes, ele ficara excitado. O fato de saber que Bruna percebia os sinais do seu desejo só contribuía para aumentá-lo.

“Ele não é tão feio assim”, descobre Bruna, “mas será que agüenta?” Então, ela lembra-se do que sentiu durante a última madrugada, quando Geraldo tocou a sua língua com a dele, num gesto instintivo para umedecer os lábios. “Não pode acontecer de novo, eu preciso ganhar!”
(Continua na próxima postagem.)

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