quinta-feira, 14 de agosto de 2008

BONECA COBIÇADA (parte 7ª/7)

(continuação)
O ladrão abre uma bolsa, que Rubens reconhece como sua, e mostra o seu conteúdo: vários pequenos objetos valiosos, como relógios de pulso e de cabeceira com rádio, correntes e anéis de ouro, entre eles o anel de grau que seu pai e dona Florinda lhe deram pela formatura na Faculdade de Comunicação.
— Já fiz a limpeza, está vendo? Eu não posso comer estas coisas. Eu tenho que vender... Por isso só levo jóias e coisas pequenas, mas de valor.
— A Maysa é muito grande...
— Dessa vez, não tem outro jeito; eu quero ela e vou levar. Eu finjo que ela bebeu muito e carrego ela pra dentro de um táxi. O dinheiro da corrida o moço já teve a caridade de arranjar... — diz o ladrão, retirando do amplo bolso do casaco um rolo largo de fita adesiva. Pede licença, amordaça e imobiliza Rubens com a fita. Acaba de beber a cerveja, sem pressa, e deixa a lata vazia em cima da mesa. Pega a bolsa no chão, soergue Maysa do sofá com cuidado, amparando a bela cabeça em seu ombro.
— Espero que o moço não sinta muito a falta dela — diz. Em seguida apaga a luz da sala, segura Maysa firmemente contra o corpo e sai do apartamento.
Perpassa o pensamento de Rubens a memória de Maysa entrevista da rua lá embaixo, através da janela dessa sala agora sombria, quando ele voltava para casa ainda há poucos minutos, e ela parecia esperá-lo, tal qual uma superposição de imagens como faria um pintor detalhista aproveitando os reflexos luminosos da vidraça.
Olhando agora pelo outro lado da mesma janela, Rubens nota que o céu ainda está escuro. Depois, procura soltar-se e chegar ao interfone para pedir ajuda. No lusco-fusco da madrugada, contorce-se no sofá. Percebe vazio o lugar que fora ocupado por Maysa e sente uma profunda tristeza, feito se acabasse de perder a pessoa mais querida de toda sua vida.
F I M

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