sexta-feira, 22 de agosto de 2008

MANIA (parte 1ª/3)

Eu, de mim, e deste meu lugar, mesmo ainda agora, não dou tento do por quê das tantas que aprontei...
Lá embaixo – Neves, como era chamado e conhecido – fui um o-tal, bamba de dar nó em pingo d’água e esconder as pontas do cordão.
Na minha cidade, lá embaixo, ainda contam, os de mais lembrança, vivências minhas que lhes causaram pasmo, sabor e muito bate-boca. Motivos até tiveram, e de lambujem, se bem se pensar. Mas, cá de meu lugar, não atino com os permeios; as razões talvez tenham se evolado no vapor alucinante das pingas que eu acometia, ou os acontecimentos meramente representaram o pano-de-fundo da tosse tísica que, por sua vez, me atazanava.
Saber é importante para mim. É uma das poucas coisas que me restam. Repassar os acontecimentos quiçá resulte-me na esperada resposta. E é nesse tanger a memória que eu me resto a exercitar.
Ia eu para casa, certo dia não muito distante no tempo, e não sei por quê – e muito menos a razão do tanto prazer que senti –, apanhei a vazia latinha de formicida que encontrei no trajeto. Para que a lavei, limpei e guardei cuidadosamente no criado-mudo ao lado da minha cama, depois de enchê-la com bicarbonato? E por quê, dias depois, ao retornar à casa, na hora do jantar, por causa de um diz-que-diz da minha cara-metade, armei o maior banzé? – assustando as crianças, o escândalo avizinhando, para a minha sala, os ouvidos dos moradores das casas próximas.
Procurei prolongar ao máximo a discussão conjugal. No melhor do entrevero, em que gozava no forjado desentendimento minha própria teatralidade, dei comigo fazendo sair de minha boca: "Está bem, é assim, não é? Pois, então, vou me matar!" E, presto, entrei no quarto, deitei-me, abri a lata de formicida e revirei seu conteúdo à boca.
(continua)

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