quinta-feira, 12 de março de 2009

TOBÉ (parte 2ª/3)

(continuação)
Tobé apareceu por volta de 1963, ou 64, 65... Chegou à casa, que foi nossa, na Avenida São João Batista, como se sempre tivesse vivido com a gente. Não disse nada. De repente, sem mais nem por quê, de surpresa, ali estava, como um fato rotineiro. Nunca o vi comendo. Tobé exibia sempre a estampa de um animal bem-alimentado. O pessoal lá de casa não teve tempo de criar o hábito de lhe dar comida. Na fresca sombra do caramanchão formado pela planta conhecida em algumas regiões por sete-léguas, trepadeira que nos dava cachos de belas flores cor-de-rosa além de mandruvás aos montes, reunia-se a moçada, assentada em tábuas de construção estendidas sobre pequenas pilhas de tijolos. Tobé assistia nossas reuniões aboletado sob um dos arcos — sempre o mesmo, o primeiro atrás da escada da entrada social — que davam acesso ao porão de ventilação do assoalho. Assuntava, estirado de barriga no chão e com as patas dianteiras sobre o nariz, como um canídeo que se preza. Uma das minhas irmãs, possivelmente a Marina, Malu ou a Maura, batizou-o de Tobé. Um nome original pra cachorro, anagrama de Beto, nosso primo da Rua Nova que possuía o mesmo temperamento bonachão. Afinal, era o Beto em figura de cachorro e o cachorro em figura de Beto.
(continua na próxima postagem)

4 comentários:

Anônimo disse...

Oi Lá. Legal. Só fiquei com dó de Tobé por não ter sido alimentado. Quanto à trepadeira sete-léguas, havia uma dela em frente a janela de meu quarto. Linda... Pena ter sido cortada, pois ficava na horta do vizinho. Lembro-me também de Beto. Uma pessoa muito simpática... Abraços.

Luiza Miranda disse...

Oi La,
Fiquei muito emocionada lendo este conto, lembrando dos bons tempos em VRB e das pessoas queridas.
Ganhei um selinho de uma amiga virtual e indiquei seu blog.
Dê uma espiada lá.
Bjs da mana,
Luiza

Lamartine Miranda disse...

Marlise,
Se, por acaso, voltares tanto no tempo e encontrares este comentário, podes crer que as pessoas (no caso, o Beto), as flores, os animais e os minerais que amamos fenecem apenas na natureza. Nos nossos corações, jamais!

Lamartine Miranda disse...

Luiza,
Consegui te emocionar. Que bom!/Quisera ter um emocionador/ ligado ao coração/ para colocar sentimentos emocionantes/ em todas as palavras que escrevesse/ para emocionar todo coraçao/ que me lesse!