terça-feira, 7 de abril de 2009

PARANOIA URBANA (parte 2ª/6)

(continuação da postagem anterior)
Mariana tinha os cabelos compridos, castanhos, e os usava como quando morava no interior, talvez na esperança de ainda continuar agradando ao finado. Estava bastante magra. Adquiriu a tendência de atribuir seu atual estado físico às tribulações dos últimos anos. Fazia exercícios aeróbicos numa modesta academia do bairro, de vez em quando, com má vontade, apenas para se livrar dos insistentes convites da filha fanática por todo tipo de atividade física. Ela simplesmente não compreendia como é que a malhação podia contribuir para melhorar o seu estado de espírito e a sua vida.
Ela ainda conservava alguns resquícios da vaidade feminina, mas não se considerava uma mulher bonita. Ocasionalmente, notava o interesse que ainda despertava no universo masculino. Mas não tinha desejo ou ânimo de incentivar a atração que pudesse despertar. Optara por dedicar os sentimentos do seu amor totalmente à sua filha. Ao centralizar suas energias em subjugar a constante preocupação de prover a subsistência de ambas, destruíra a possibilidade de satisfazer outros desejos íntimos.
Na cozinha do apartamento, mãe e filha comeram, rapidamente, a refeição matinal, entre um diálogo distraído sobre o dia aborrecedor que transcorreria sob a chuva. Ao terminar o lanche, Mariana levantou-se. Acompanhou a filha até a saída. Lá, recomendou-lhe que tomasse cuidado com os pivetes na rua e despachou-a para o colégio dando-lhe um beijo carinhoso de despedida.
De regresso ao seu quarto, despiu o roupão de banho. Vestiu roupas de trabalho, aplicou uma leve maquiagem, trancou cuidadosamente a porta do apartamento e saiu do prédio para tomar o ônibus que a levaria ao centro da grande cidade.
(continua na próxima postagem)

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