Escrevi, em
Hinos Nacionais (1)*, que, em muitos casos os hinos ditos
patrióticos, estas composições musicais geralmente executadas em cerimônias
oficiais de governos ou em eventos sociais, têm a tendência declarada ou
subentendida, em suas letras, de inclinar-se para a resolução de seus problemas
internos e com outros países, sejam econômicos, sociais, políticos etc.,
através da violência das guerras e das revoluções sangrentas e ou promotoras da
prisão, da tortura e do exílio.
O nosso admirado e emocionante hino não escapa ao exame, quando diz: “Se
o penhor dessa igualdade / Conseguimos conquistar com braço forte. / Em teu
seio, ó liberdade, / Desafia o nosso peito a própria morte!”. Certamente o
penhor da própria vida pela perpetuação da liberdade da Pátria é uma ação mais
que desejável da parte dos cidadãos e cidadãs aptos para a luta armada. Mas
penso que este símbolo nacional não deveria apregoar a luta, mesmo porque é
entoado por crianças, idosos, deficientes físicos etc., que, às vezes, não têm
condições de cumprir na íntegra as próprias atividades, quanto mais de assumir
o compromisso implícito de lutar em uma guerra.
Depois, já na segunda parte, afirma: “ ‘Paz no futuro e glória no passado’ “ A palavra “paz”, no sentido que
exprime no verso, indica seu antônimo “guerra” — vencida por nós, obviamente —,
grafada metaforicamente como “glória”.
Ainda: “Mas, se ergues da justiça a clava forte, / Verás que um filho teu
não foge à luta, / Nem teme quem te adora a própria morte”. Os versos falam por
si mesmos, dispensam comentários...
Um dos versos do nosso hino, aquele que diz: “Deitado eternamente em
berço esplêndido,” que inicia a segunda parte da música, tem causado alguma
polêmica. Alguns acham que a expressão “deitado eternamente” não condiz com os
ideais de desenvolvimento almejado pelo povo brasileiro. Em quem o canta ou
escuta e presta atenção à letra, deixa a impressão de um gigante adormecido
para sempre, impotente, preguiçoso.
Pensei que ficaria conforme um texto em torno de “Nascido ternamente em
berço esplêndido”, que aproveitaria quase integralmente a palavra
“eternamente”, mudando para melhor o seu sentido.. Mas achei a frase piegas. Depois
de algumas tentativas, encontrei estes versos: “Nascido realmente em berço
esplêndido” e “Nascido heroicamente em berço esplêndido”, que não comprometem a
métrica do poema nem a melodia da composição, constituindo, as duas, fruto da
realidade do início do Brasil como nação soberana.
O Congresso Nacional tem poderes para decretar a
pequena modificação, tão parecida e coerente com a letra original que passaria
despercebida da maioria da população em menos de três meses. Creio que, se
algum dia o Congresso Nacional decidir fazer a mudança, e sejam esses versos levados a
seleção entre outros, serão fortes concorrentes
para figurar no texto do Hino.
(Continua na próxima postagem.)
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