quinta-feira, 12 de junho de 2008

MANGALÔ, TRÊS VEZES! (parte 3ª/3)

(continuação)
— Eu acho que o tratamento não está fazendo muito efeito; ele não mudou praticamente nada. Olhem! — pede Tatão.
Hélio da Lilia olha atrás, para observar Cícero entretido em como ultrapassar uma rachadura do passeio. — Também acho — ele diz, apoiando Tatão. Ainda espiando para trás, pergunta a Cícero: — Ei, Cícero! Quanto tempo vai durar seu tratamento?
— Vai durar até acabar — diz Cícero, enquanto alcança seus companheiros.
— Então vai demorar. Você faz essas loucuras desde menino... — rebate Hélio.
— Os tratamentos com o Isildo são demorados — acrescenta o Major. — Vejam o caso do Manoelzinho, da Casa Guedes... O coitado está encostado na previdência...
Cícero, esperto, interrompe o Major, antes que ele desfie de novo o drama do Manoelzinho, balconista da Casa Guedes: — Mas eu já melhorei muito. Até saio de casa à noite... Ontem mesmo fui ao cinema com a Miloca...
— Quem não vai gostar dessa história de você parar de fazer as coisas três vezes é a Miloca. Miloca, a feliz mulher de Cícero — brinca, pela milésima vez, o Major, que jamais foi militar, que nunca assentou o traseiro gordo numa sentina de caserna e se assusta até com bombinhas de São João.
— É, Major. Apesar dos pesares, somos muito felizes, você sabe. Mas gostaria que o governo fosse como eu e creditasse três salários no meu contracheque todo mês.
Chegam afinal ao consultório do doutor Isildo. Cícero se despede da turma e entra. Lá dentro, senta-se numa poltrona, em frente à mesa do médico. Enquanto disseca minuciosamente seus problemas, em resposta a uma complicada questão proposta por Isildo sobre comida de galinhas, Cícero flagra o médico desenhando aereamente seqüências de três estrelinhas e três quadrados. Vez ou outra substitui os quadrados por círculos, mas as estrelas permanecem. O doutor percebe que está sendo observado e esconde os desenhos na gaveta. Consulta o relógio e interrompe as explicações de Cícero.
— Está bom. Por hoje, chega. Para onde você vai?
— Para casa.
— Espere um pouco. Vou na mesma direção, desço com você.
Saem os dois juntos, conversando calmamente. Evitam pisar nas listras. Cícero dá três voltas a um poste com sinal de trânsito, daqueles que, mesmo com a terapia, o seu tique ainda não perdoa. Logo após, intenta retomar a caminhada. O médico, porém, põe as mãos abertas sobre os ombros do seu paciente, impedindo-o de continuar a andar.
— Dá três voltas outra vez — ordena o doutor Isildo.
— Por quê? — questiona Cícero.
— Porque você não deu estas voltas direito, Cícero!
F I M

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