sexta-feira, 18 de julho de 2008

BONECA COBIÇADA (parte 2ª/7)

(continuação)
A campainha do telefone retine. Rubens inclina-se na poltrona, pega o fone e atende.
— Alô.
— Rubiiinho, querido! Aqui é a Bete!
— Oi... — Rubens cala-se por um instante, tentando ver a porta do banheiro, de onde vem o som de água caindo. Continua: — Escuta: estou na metade de uma revisão de texto... Estou trabalhando. Telefone amanhã.
— Ô, Rubens! A sua delicadeza ainda vai machucar alguém. É assim que você me trata? Por que não me convida para ir aí? Estou me aborrecendo demais, sozinha neste feriadão... Parece até que Belô fechou para balanço, não tem mais ninguém aqui no centro, só você... e eu, tão precisada de um amigo...
Depois de dizer alguns “sim”, e muitos “não” quando Bete insiste em ir conhecer o seu apartamento, e um seco “tchau” final, Rubens desliga. Olha afetuosamente para Maysa, cujo rosto extático atrás dos óculos escuros a faz parecer como que adormecida.
Se quisesse, e se não fosse pela presença de Regina, poderia usar o controle- remoto para ouvir as músicas e poesias interpretadas por Maysa. Fizeram-na poliglota, cantava e declamava em cinco das línguas mais usadas. Rubens gostava de ouvi-la cantar e declamar em mandarim, apesar de não entender nada, só pelo prazer de sentir nos ouvidos a carícia da voz aveludada que herdara da gravação de antigos LPs. Resiste ao impulso — criado pela sua irritação com Regina e Bete — de ir até ela e beijar-lhe suavemente os lábios rubros e acariciar levemente os seios empinados sob o tecido vermelho do vestido. Mas faz uma breve inclinação de cabeça na direção dela e volta sua atenção para os comandos do computador.
A porta do banheiro se abre. De cabelos molhados, curtos e louros, Regina sai. A toalha azul-marinho envolve-a da cintura para baixo, obrigando Rubens a admirar um provocante par de seios. Gotas escorrem-lhe sobre a pele fresca, de propósito mal secada. Ela entra na sala e desfila, acintosa, sua exuberante anatomia na frente de Maysa. Assenta-se, depois, sobre a minúscula sunga que impede Rubens de estar completamente nu.
— Não suporto mesmo essa mulher aqui na sala — diz ela.
— E para onde quer que eu a leve, Regina? Para o quarto?
— Até que você gostaria, seu safado. Faríamos um original triângulo-amoroso.
— Mas, se eu der preferência a Maysa...
— Aí você me paga... Quem telefonou, enquanto eu estava no banho?
— Foi um amigo. Queria saber se eu ia sair. Disse que estava trabalhando.
— Você e seus amigos... Não tem nada de sair. Nem tem que trabalhar. Esta tarde, você só tem que me dar amor. Muiiito amor – diz ela, beijando-o na boca.
(continua)

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