quinta-feira, 24 de julho de 2008

BONECA COBIÇADA (parte 3ª/7)

(continuação)
* * * * *

O relógio na parede, modelo “cuco”, descolado num brechó, informa que faltam quinze minutos para as nove horas da noite. Regina acabara de sair para atender a um chamado de urgência do hospital onde trabalhava.
— Mamãe?
Sentado no sofá, ao lado de Maysa, Rubens faz um interurbano para a casa de seus pais.
— É, mamãe. É o Rubens! Estou ligando para dizer que não pude ir aí, porque a revista mandou trabalho, tenho que entregar segunda-feira. É. Falei, sim, que ia aí, mas não deu... A Santinha visitou a senhora? É. Ela é uma tetéia, como a senhora diz, mas eu não penso em casamento ainda... Sei. Tem muita moça boa, mesmo, aí em Uberaba. Netos? A senhora quer netos? O quê? Quer uma dúzia? Fala mais alto, mamãe, no bocal... O que foi que o Rafael contou pra senhora sobre a Maysa? Esse meu irmão é um mexeriqueiro, mesmo... É, ela se chama Maysa, sim. Ah! Ele achou que ela é muito bonita? A senhora quer dizer, uma estrela do cinema. É, sim. Não, não gastei um dinheirão com ela (o sacana contou isso pra mamãe, também!). Nem mexi na caderneta de poupança... (O que será que dona Florinda vai falar se souber que paguei quase treze mil dólares na compra da Maysa?) Não, não vou botar a Maysa fora. Não senhora, não é idolatria não. Ela só me faz companhia. (Tenho que explicar isso pra todo mundo?) Não senhora; também não tenho propósitos inconfessáveis. Nem tem nenhuma sacan... (Onde será que mamãe aprendeu isso?) O quê? Mas é um absurdo, mamãe: a Santinha, com ciúme da Maysa? A Dinalva, também? Uberaba inteira já sabe?
O interfone toca.
— Mamãe, tenho que desligar. Chamo de novo amanhã. Um beijo. Tchau. Já sei, minha querida dona Florinda, prometo que eu vou alimentar-me direitinho, todo santo-dia. Mãe, estão me chamando na portaria. Preciso desligar. Está certo, tomo cuidado com as correntes de ar, também. Mamãe!!! Um abraço para o papai e para o Rafael. Outro. Tchau.
(continua)

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