quarta-feira, 30 de julho de 2008

BONECA COBIÇADA (parte 4ª/7)

(continuação)
Com pressa, Rubens desliga o telefone sem fio, que deixa sobre o colo de Maysa. Atende o porteiro no interfone instalado na cozinha.
— Pronto!
— Senhor Rubens, está aqui na portaria aquele moço, César Augusto... Pode subir?
— Pode, Alfredo.
— Está bem. Vou falar com ele...
— Obrigado, Alfredo.
Rubens abre a porta. César Augusto traz um buquê, no qual predominam os amores-perfeitos; cumprimenta efusivamente Rubens, que olha as flores com ar desconfiado. César Augusto vai até a frente de Maysa e retira o telefone que Rubens esqueceu no colo dela, depositando ali o ramalhete.
— Flores para uma deusa! — exclama, apoiando-se no tapete sobre um joelho.
Rubens aproxima-se e ajuda o amigo a erguer-se.
— Também não precisa babar no colo dela, César. Por que você gosta tanto da Maysa? — questiona, sem conseguir mascarar um leve sinal de ciúme na voz.
— Nunca tive a oportunidade de chegar perto e tocar em uma mulher tão linda assim... Parece um filme com a Sophia Loren, sentada ao sol da tarde num café da Côte d’Azur, com estes óculos escuros e o vestido vermelho. Só falta o chapéu de palha, de aba larga, com um laço de cetim.
— Pode elogiar. Ela nem liga...
— Já pensou se ela me desse bola?
— A Maysa você pode elogiar, paquerar... Ela se manterá imperturbável. Pode lhe passar todas as cantadas imagináveis, sem perigo de assédio...
— Desde que eu vi a Maysa, não consigo deixar de pensar nela.
Rubens, resignado, levanta-se e abre a porta de um armário decorado com enfeites barrocos. De dentro, ele retira uma garrafa de uísque e dois copos.
— Todo mundo que vem aqui se apaixona pela Maysa, César. Mas as mulheres a detestam. Também, não é para menos, bonita como ela é. Ela é uma perfeição. Ninguém fica indiferente na presença dela.
— Ela é uma garota esperta, não é, boneca? — César Augusto vira-se para Rubens: — Vamos sair?
— Vamos — concorda Rubens. — Posso terminar a revisão amanhã.
Rubens serve uísque com gelo para ambos. Os dois amigos conversam, sentados nos sofás. Planejam a noitada. César Augusto de mãos dadas com Maysa, que Rubens ativou para cantar, em francês, músicas eróticas que fizeram sucesso por volta de 1970. O visitante dá uma rápida olhada num exemplar atrasado da revista para a qual Rubens faz revisões e tece alguns comentários sobre as manchetes. Depois, saem os dois do apartamento para a noite de sábado em Belo Horizonte, não antes que César Augusto deposite um longo beijo na superfície perfeita do rosto de Maysa.
(continua)

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