domingo, 3 de agosto de 2008

BONECA COBIÇADA (parte 5ª/7)

(continuação)
* * * * *
Falta uma ou duas horas para a manhã do Domingo de Páscoa se anunciar sobre a Serra do Curral e iluminar a cidade. Rubens sai do elevador e percebe, pela greta da porta aberta, a luz acesa na sala do seu apartamento. Ele se lembra que deixou as luzes apagadas e a porta trancada, quando saiu de casa na companhia de César Augusto. A porta não pára fechada; a fechadura foi arrombada. Meio de pileque, Rubens entra na sala e dá de cara com o buraco negro do cano de uma pistola, de uso exclusivo das Forças Armadas. Atrás do cano, um ladrão segura firmemente a arma. O ladrão faz sinal para Rubens sentar-se no sofá onde está Maysa. Ele se encolhe na ponta do assento. Os efeitos da bebida sumiram, milagrosamente; permanece uma leve ressaca, servindo de embalagem para o medo. Sente uma súbita sede.
— Como foi que você entrou aqui? — gagueja Rubens.
— Pela porta.
— Isso eu sei; vi a fechadura arrombada. Queria saber como entrou no prédio.
— Pois é, moço, pelo portão da garagem. Esperei até um carro chegar e o motorista usar o controle remoto para abrir o portão e entrar. Aí eu entrei também, depressa, antes que o portão abaixasse, e me escondi atrás de outro carro. A garagem aqui é grande e mal iluminada... O cara entrou no elevador e nem me viu.
— Ah! Mas como é que você vai sair? A portaria funciona a noite toda...
— Achei o controle remoto do portão no porta-luvas do segundo carro que arrombei. Olhe ele aqui. O porteiro dorme no serviço, eu já passei pela frente do prédio em algumas noites. Dá pra perceber ele, pela porta de vidro, cochilando lá no fundo da portaria. E ele não pode ver quem entra e sai pelo portão ou pelo elevador da garagem.
Rubens pensa para que serve incluir os porteiros na conta do condomínio e nas reclamações que fará ao síndico do prédio. Então lembra-se que está sob a mira de uma arma. A sua sede aumenta.
— Olhe, chefe, preciso de uma bebida. Posso pegar?
— Pode. O que você vai beber?
— Uísque. Quer?
— Prefiro uma cerveja. Tem? Então pode pegar, moço, mas vá com calma... Olhe, se tiver azeitonas, também quero...
(continua)

Nenhum comentário: